Paisagem de lembranças – Revista Natureza

Jardim, arte e soluções criativas andam lado a lado neste espaço aconchegante que resgata as raízes de uma família

Texto Ana Luísa Vieira | Fotos Valério Romahn | Produção Aida Lima | Criação Hermenegildo Petrocino

Mais do que agradar aos olhos, o jardim que o artista plástico Hermenegildo Petrocino criou nos fundos de sua casa em Valinhos, no interior de São Paulo, conta histórias. Das plantas aos objetos decorativos, tudo o que se vê no espaço de 38,6 m² é referência a algum momento da vida do jardinista. Há desde espécies que ele observava na casa da avó quando pequeno até objetos trazidos de viagens. Materiais reaproveitados e peças de valor afetivo, que fizeram parte de sua infância e adolescência, também têm lugar garantido.
Segundo Petrocino, que começou a montar o jardim em 2011, seu objetivo era resgatar aventuras pessoais e de sua família, formada por imigrantes italianos que chegaram ao Brasil no início do século 20. “Me inspirei nos quintais de nossos antepassados, onde tudo era disposto com espontaneidade, sem um projeto prévio”, revela. O resultado é um ambiente caprichado e cheio de ideias para dar um toque charmoso e pessoal ao paisagismo.

LEMBRANÇAS DA ITÁLIA

Um canteiro sinuoso de grama preta ladeia o caminho de pedra mineira. O corredor abriga metade do jardim, onde plantas e obras de arte se combinam

O jardim de Petrocino é composto por dois corredores que se unem formando um L. O trecho inicial, que tem 7,8 m de extensão, ganhou um caminho desenhado com pisadas de pedra mineira assentadas diretamente sobre a terra.
Em uma das margens do trajeto, o canteiro orgânico de grama-preta (Ophiopogon japonicus) (1) desfruta da companhia de vasos cerâmicos com suculentas como babosa (Aloe vera) (2) e rosa-de-pedra (Echeveria glauca) (3). Boa parte do charme do espaço se deve às prateleiras de granito fixadas na parede com a ajuda de suportes de ferro. Sobre elas, o artista plástico dispôs suvenires trazidos de uma viagem à Itália. Segundo Petrocino, o beiral da casa garante segurança das lembrancinhas mesmo nos dias de chuva e vento. Na outra lateral, as folhagens coloridas de espécies como o cróton (Codiaeum variegatum) (4) chamam a atenção: “A planta oferece diversidade de cores independentemente de floração e se adapta bem a situações de sol e sombra”, conta o artista plástico.

Suculentas e folhagens ornamentam o pequeno espaço, cujas paredes abrigam recordações de viagens

Perto dali, uma lata antiga de molho de tomate foi usada como vaso para a pimenteira (5). “Minhas avós também reciclavam esse tipo de vasilha para usar no  jardim”, acrescenta Petrocino. No fim do corredor, o vaso com acálifa (Acalypha wilkesiana ‘Marginata’) (6) foi acomodado próximo a um conjunto de pratos de cerâmica pintados pelo artista. Eles exibem Desenhos de rosetas inspirados em detalhes da Catedral de Salerno, na Itália.

A antiga lata de molho de tomate transformou-se em um charmoso vaso para a pimenteira. A peça foi disposta próximo ao cróton

HOMENAGEM COLORIDA

Coléus, margaridas e confetes-anões deixaram mais colorido este cantinho do jardim

No ponto de encontro dos dois corredores, vasos aglomerados servem de suporte para folhagens coloridas e floríferas. Confete-anão (Hypoestes phyllostachya ‘Dwarf Confetti’) (6), crisântemo (Chrysanthemum hybrid) (7) e coléu (Plectranthus scutellarioides) (8) são algumas das plantas presentes na composição.

O espaço é tão charmoso que ganhou nome e placa de identificação: Spazietto Renata – Espacinho Renata, em italiano –, uma homenagem à mulher do artista plástico. O toque final é dado por um enfeite preso na parede que imita as cerquinhas dos jardins.

Sob o pergolado de madeira foram acomodados duas banquetas e um vaso com orquídeas ludísias. No piso, tijolinhos de demolição e ripas de madeira compõem um mosaico

Sob o pergolado de cambará-rosa – ele tem 2 m de comprimento, 2,4 m de altura e foi coberto por telhas – descansam duas banquetas confeccionadas com a mesma madeira da estrutura. Elas são ornamentadas por arabescos de ferro e dividem espaço com um vaso de orquídeas ludísias (Ludisia discolor) (9). No piso, tijolinhos de demolição e sobras de madeira foram dispostos de modo a formar um mosaico.

 

RECANTO DO PASSADO

A última das atrações do jardim é uma área de convívio formada por um conjunto de mesa e cadeiras dispostas sob um caramanchão de madeira angelim. As laterais do espaço, que ocupa 4,4 m², foram ornamentadas por grades com volutas – desenhos espiralados que lembram caramujos. No chão, o revestimento de ladrilhos hidráulicos confere um toque retrô à composição.

Pratos pintados pelo artista enfeitam a parede, cujas cores e formas foram inspiradas na cidade italiana de Calcata

Do pergolado, é possível avistar um paredão amarelo enfeitado com pratos pintados por Petrocino. Tanto a cor da parede quanto o painel de tijolinhos à vista, em forma de pórtico, foram inspirados na arquitetura da cidade italiana de Calcata, que o artista conheceu em 2011.
No paisagismo, ganham destaque a peperômia (Peperomia obtusifolia ‘Variegata’) (10) e os vasos com calanchoe (Kalanchoe blossfeldiana ‘Calandiva) (11) acomodados sobre um banquinho de madeira que o artista ganhou do pai quando tinha apenas quatro anos de idade. Vasos com samambaias (12) e comigo-ninguém- pode (Dieffenbachia ‘Camille’) (13) – espécies de predileção das avós de Petrocino – enfeitam o extremo final do jardim.

O fotógrafo Valerio Romahn, a repórter Ana Luísa Vieira e a produtora Aida Lima ao lado do casal Renata e Hermenegildo Petrocino

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