TEXTO: Eduardo Gonçalves, paisagista e adepto do kokedama
O conceito do kokedama é bastante simplório, utilizando os princípios do cultivo em vasos da mesma forma. As raízes são envolvidas em uma porção de substrato, que poderá ser mais pesado para plantas em geral ou mais leves, para plantas epífitas ou equivalentes. Tal bola de substrato, uma vez agregada, será coberta por uma camada de musgo, que pode estar vivo ou morto. O musgo parece importante para garantir não só que a umidade interna não seja perdida, mas até como algo capaz de absorver a umidade atmosférica e disponibilizar para as raízes.
Muitos musgos também possuem substâncias que podem deter o desenvolvimento de fungos e bactérias, o que é desejável. Por fim, esse musgo é mantido no lugar por meio de várias voltas de um cordame ou fios de náilon, garantindo que o negócio inteiro não se desfaça ao menor sinal de degradação dos componentes. O cordame que envolve toda a bola também pode ancorar o fio, que poderá manter todo o arranjo pendurado em algum lugar.
TUDO COMEÇA COM O SUBSTRATO
A ideia do kokedama é simular um vaso, então o substrato é a base de tudo. Assim como em um vaso, ele precisa ter elementos que segurem umidade, nutrientes – que geralmente também são elementos que seguram a bola mais ou menos coesa –, e algo que ajude na drenagem. No meio de tudo isso, também podem ter elementos que servirão como nutrientes para as plantas, mas isso pode ser acrescentado depois.
Originalmente, era comum usar um composto orgânico misturado com terra de akadama, uma espécie de terra argilosa granular que ocorre no Japão, que é amplamente utilizada para bonsais. Você não vai querer usar akadama por aqui porque vai ser muito caro e difícil de conseguir. Mas vai poder misturar substrato comercial com areia grossa (duas partes de substrato e uma de areia). A mistura que mais uso por aqui é uma parte de matéria orgânica (equivalente ao húmus de minhoca), duas partes de perlita (capaz de reter água e nutrientes) e sete partes de fibra de coco. Para cada 100 litros dessa mistura, incluo cerca de 500 g de fosfato natural reativo (FNR). Quando posso, uso só seis partes de fibra de coco e acrescento uma parte de fertilizante de liberação lenta.
Para bonsais, tenho uma mistura específica, descrita na seção de kokedamas para árvores e arbustos. Há quem misture argila pura (daquela de fazer vasos) com casca de arroz ou areia grossa e um pouco de matéria orgânica. Nunca fiz assim, mas sei que a bola fica incrivelmente coesa. Eu só teria medo de usar argila para plantas que gostam de substrato mais bem drenado, como muitas epífitas e talvez algumas suculentas. É claro que substrato é sempre o que você vai poder encontrar por aí, mas a inexistência do vaso parece deixar até mais espaço para experimentação. Tenho achado mais difícil “afogar” um kokedama, que uma planta em um vaso convencional.
O Musgo
Costuma-se negligenciar a importância dos musgos na horticultura, mas quem já passou pelo cultivo de orquídeas, carnívoras e bonsais não consegue esquecer o quanto os musgos são centrais para garantir raízes saudáveis. O princípio que rege tudo isso é simples: na Natureza, especialmente na úmida floresta tropical, o musgo está em todo lugar e costuma ser a base da germinação de muitas sementes, já que é quase sempre um dos lugares que conservam melhor a umidade.
Além disso, costuma ser um local que controla a população de fungos e bactérias, em parte porque consegue manter um pH bem ácido ou até pela produção de antibióticos naturais. O fato é que o musgo é uma esponja para absorver umidade e ainda consegue fazer um controle químico interessante, por isso envolver a bola de substrato com musgo é uma excelente ideia.
No kokedama original, utilizam-se musgos vivos para envolver a bola de substrato, então o musgo continua crescendo depois da montagem, chegando até a esconder o cordame. Entretanto, não é tão fácil encontrar musgo vivo comercialmente por aqui. Uma saída é utilizar esfagno morto, que mantém suas particularidades químicas por muito tempo. Os musgos vivos podem ser obtidos no jardim, mas quase sempre em quantidade insuficiente. Já usei musgo-de-java (Taxiphyllum barbieri), uma espécie amplamente utilizada em aquários plantados. Se seu kokedama se mantiver bem úmido, ele funciona bem e até cresce profusamente.
Também é possível embalar a bola com uma fibra inerte, como fibra de coco. Também já fiz kokedamas em que o substrato foi amarrado com bastante cordame, então o cordame tornou-se o vaso em si. Assim, no kokedama contemporâneo, o musgo pode ser até omitido da montagem caso não esteja disponível, apesar de não podermos contar com seus inúmeros benefícios horticulturais. Com sorte, ele pode colonizar o cordame e criar uma nova camada!
AMARRANDO TUDO
A montagem do kokedama começa com a obtenção da planta com o mínimo do substrato original possível. O substrato do kokedama é agregado ao redor das raízes, formando uma bola. É por isso que é sempre bom ter húmus ou algo que ajude a dar uma certa liga, já que é complicado fazer essa bola com um substrato muito solto.
Se a bola for bem agregante, já dá pra colar uma camada de musgo envolvendo a bola de substrato. Eu, como quase sempre uso um substrato mais solto, preciso prender um pouco a bola de substrato antes de entrar com o musgo. Uma vez revestido com o musgo, o negócio é amarrar até você sentir que a bola não vai cair aos pedaços se secar um pouco.
Há quem use fio de náilon, de preferência um mais fino, para não interferir muito no visual. Como comecei minha vida de paisagista fazendo aquários, gosto muito de utilizar uma linha de costura elástica, que compro nas cores verde ou preto. Essa linha, além de muito discreta, pode ser esticada para dar mais força.
Você também pode já começar com um cordame mais grosso, de preferência de sisal.
Já usei até barbante comum, mas o barbante novo é muito branco e fica meio esquisito até envelhecer um pouco, então prefiro um barbante que tenda para o bege. Mas esse é o meu estilo.
Já vi belíssimos kokedamas amarrados com linhas coloridas ou até com uma “roupinha” de tricô ou crochê. Do que for possível se utilizar para amarrar a bola sem causar prejuízo à planta, você poderá lançar mão, sem medo.
Para ler mais sobre kokedamas, veja a matéria completa na edição 415 da revista Natureza:
O ESPECIALISTA
EDUARDO GONÇALVES É doutor e botânica e paisagista, autor de dezenas de reportagens de capa da Revista Natureza e autor de diversos livros de botânica e paisagismo.