Ipês um show de flores no jardim

TEXTO: Roberto Araújo

Elas capricham na beleza. São árvores que se despem de todas as suas folhas para se cobrirem de flores e dar um encantamento especial à paisagem. São os ipês que ainda “combinam” de não florescerem todos de uma vez, mas em uma sucessão que começa em julho com o ipêroxo; em agosto vem o ipê-amarelo; na virada para setembro, o ipê-rosa; e, na chegada da primavera, em setembro, o ipê-branco.

Além da beleza da floração, o tapete colorido que se forma quando caem as flores do ipê ainda dá um charme especial à paisagem
Foto Shutterstock – JBula_62

Não que seja assim tão certinho, depende muito do regime de chuvas e da temperatura, e essa ordem acontece na região Sudeste do Brasil. Em outras regiões, tudo pode ser bem diferente. Botanicamente é que as coisas se complicam. O nome popular ipê pode se referir ao gênero Tabebuia, que tem 74 espécies, ou ao Handroanthus, que, por sua vez, tem outras 35 espécies. Ou seja, são 109 espécies que podem confundir mesmo os especialistas.

Foto Valerio Romahn

Muitas das espécies são nativas do Brasil, porém, é mais correto afirmar que elas são plantas nativas dos trópicos e subtrópicos americanos, do México, passando pelo Caribe e pela América Central, chegando até a Argentina. A maioria são árvores vigorosas e quem tem um ipê sabe que suas sementes transportadas pelo vento crescem espontaneamente por toda a redondeza.

Para o paisagismo, o uso do ipê é sempre recomendado e existem ipês de diversos portes e cores, adequados aos mais diferentes tamanhos de terrenos. Genericamente, o ipê-roxo e o ipê-rosa dão as maiores árvores, enquanto o ipê-amarelo, dependendo da espécie, gera árvores menores e de crescimento mais lento. Certo é que, na hora de florescer, a árvore dá um destaque especial ao jardim. Até as muitas flores quando caem dão um show à parte, criando lindos tapetes coloridos. Por serem nativas (ou quase), na hora do cultivo é só caprichar nas regas até a muda pegar e, depois disso, é só deixar a Natureza cuidar. O show no seu jardim estará garantido.

Foto Valerio Romahn
É o primeiro a florescer, por volta de julho, com inflorescências terminais,
no formato de pompom. Não há quem não se apaixone

Ipê-roxo – O maior e mais belo

Talvez o mais lindo de todos. Fica bem em qualquer lugar, tanto no paisagismo, como em parques. Chega fácil aos 30 metros de altura quando no interior da mata e aos 15 metros em campo aberto e pode desenvolver um tronco de até 80 cm de diâmetro. A espécie é o Handroanthus impetiginosus, e sua grande beleza são as flores reunidas em inflorescências terminais, com o formato de bola ou pompom e a famosa coloração roxa.

É uma bela e frondosa árvore, com ciclo bem pronunciado que, por volta de julho, começa a perder as folhas. Em seguida, surgem as flores aos milhares que depois caem, criando lindos tapetes. Os frutos são vagens que contêm sementes aladas, próprias para a dispersão pelo vento. A madeira é pesada, dura, de grande durabilidade, mesmo em condições que poderiam favorecer o apodrecimento.

Não se deixe levar pela aparência das mudas e evite plantar perto de construções. Para sustentar a árvore, que é muito grande, as raízes são vigorosas e podem levantar facilmente áreas cimentadas ou estruturais, além de entupir encanamentos. Se você tem espaço, nem pense duas vezes, plante uma ou mais mudas de ipê-roxo e garanta um espetáculo sensacional no seu jardim.

Foto Valerio Romahn
Por ser uma árvore frondosa, sempre dê uma distância em relação
a área construída, para deixar espaço para as raízes
Foto Shutterstock_Waldemar Manfred Seehagen
O ipê-amarelo é o segundo a florescer, em agosto, e tem um atrativo
extra pelo contraste das flores com o céu azul, numa combinação perfeita

Ipê-amarelo – Luz no seu jardim

Nada ilumina mais um jardim que uma bela florada do ipê-amarelo. Normalmente floresce em agosto e não é tão exagerado como o ipê-roxo. Seu crescimento mais lento faz com que demore muitos e muitos anos para chegar entre 20 e 30 metros de altura máxima e, mesmo assim, isso raramente acontece nos jardins. Isso falando da espécie Handroanthus albus, já que existem outras espécies que também têm flores amarelas.

O ipê-amarelo se dá muito bem no Rio de Janeiro e em Minas Gerais até o Rio Grande do Sul. As lindas flores se reúnem em inflorescências terminais, que são impossíveis de não serem notadas. Os frutos são cápsulas cilíndricas, revestidas por material aveludado e que também são dispersadas pelo vento. No paisagismo, pode ser usado como árvore em pequenos espaços e prefira mudas um pouco mais desenvolvidas pela demora no crescimento.

Depois da sensacional floração, o ipê-amarelo ainda atrai o papagaio
verdadeiro (Amazona aestiva), que adora as sementes da vagem

O fato de suas flores surgirem no inverno também dá um charme extra, quando o jardim não está no seu melhor momento. Ninguém nem nota as outras plantas quando o amarelo do ipê explode a sua cor. Ah, sim, apesar dos milhares de posts que têm na internet, o ipê-amarelo, tanto o Handroanthus albus como o Handroanthus chrysotrichus, não são a flor símbolo do Brasil. Oficialmente, a árvore símbolo do Brasil é o pau-Brasil

Wikimedia
É muito justo que o tão brasileiro ipê tenha como nome do gênero um brasileiro, Oswaldo Handro

Oswaldo Handro – Um brasileiro que deu nome ao gênero dos ipês

Algo que deve orgulhar a todos os apaixonados por ipês é o genero Handroanthus, que homenageia um brasileiro: Oswaldo Handro (1908-1986). Ele iniciou sua carreira em 1930 no Instituto Biológico em São Paulo como encarregado de culturas e auxiliou na implantação do Orquidário do Estado, que se tornaria o Jardim Botânico. Depois, fez carreira no Instituto de Botânica, também ligado ao Jardim Botânico, e sua formação como cientista foi quase de autodidata. Descreveu inúmeras novas espécies da flora brasileira e, muito respeitado no meio botânico, foi homenageado com o nome de muitas espécies. A maior delas, claro, com o belíssimo gênero Handroanthus.

No início de setembro é a vez do rosa.
Alterna anos de grandes floradas com outro em que descansa

Ipê-rosa – Não é nativo, mas é lindo

Chega junto com a primavera e tem uma florada sensacional. Normalmente alterna anos em que perde todas as folhas e se cobre inteiramente de flores, enquanto no ano seguinte tem uma florada menos vistosa e mantém algumas folhas para “descansar”. A espécie mais comum é o Tabebuia rosea, embora várias outras também tenham flores cor-de-rosa.
É uma árvore muito frondosa (conheço bem, porque tenho um exemplar enorme na minha chácara) e é muito comum seu cultivo na Costa Rica e em El Salvador. Não é nativa do Brasil, mas é quase como se fosse, tão bem se adapta por aqui. Os ramos têm uma estratificação irregular e crescem muito mais para cima do que para os lados. As flores são grandes, em vários tons entre o rosa e o roxo. As cápsulas com as sementes, ao se abrirem e serem levadas pelo vento, germinam com uma enorme facilidade. As mudas podem ser transplantadas com tranquilidade e altíssimo nível de sucesso e crescem muito rapidamente.

Foto Roberto Araújo
Com flores grandes, que também formam lindos tapetes quando caem.
Foto Valerio Romahn

Ipê-branco – Pouco exigente, rápido e muito bonito

Este sim é nativo do Brasil, do Cerrado e do Pantanal, com uma floração pra lá de exuberante. Não é muito grande, variando de 7 a 16 metros quando adulto. A copa da Tabeuia roseoalba é piramidal e a floração acontece entre agosto e outubro. Perde todas as folhas, o que deixa o espetáculo ainda mais bonito. Se olhar de perto, você vai ver que as flores em forma de trompete são brancas ou levemente rosadas. Fica sensacional do paisagismo também pela sua forma elegante e, assim como outros ipês, dá uma ótima sombra nas épocas quentes e, por perder as folhas no inverno, deixa o ambiente mais aquecido e gostoso. É bem pouco exigente em relação ao solo e vai bem mesmo em solos pobres e pedregosos, o que faz do ipê-branco uma excelente árvore para áreas que precisam de recuperação ambiental. É também muito aconselhado para arborização urbana, em primeiro lugar por ser nativo e também por crescer cerca de 20 cm por ano e dispensar poda para deixar a área de pedestres sempre livre. O show é garantido, mas aproveite logo, porque dura cerca de uma semana.

Foto Valerio Romahn
As flores chegam próximas ao início da primavera e encerram o ciclo dos ipês.
Mas as datas podem variar, porque, até para os especialistas,
é difícil saber a espécie certa

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